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Um empresário, em crise no casamento, tenta dar sentido à vida depois da morte violenta de sua filha Beatriz – uma jovem que, ao contrário do pai, acreditava na boa índole das pessoas e na vocação do Brasil para o amor e a felicidade. Ponto Final tem como principal cenário o interior de um ônibus que é transformado em casa, praça e calçada – uma extensão da própria cidade. É nesse universo, de sonho e realidade, que a história se desenvolve e os personagens contracenam.

Em um cotidiano de tantos medos e desconfianças, em que, cada vez mais, o ser humano sente necessidade de trancar tudo o que tem, trancando-se a si mesmo, Ponto Final procura mostrar que só fazemos sentido a partir do outro. É no outro que encontramos forças para superar nossas perdas e adversidades. É no outro que ganhamos fôlego e inspiração para viver. Porque, só no “coletivo”, projetamos nossos sonhos e nos realizamos.

Algumas falas dos personagens

Davi:
Tenho sido paciente, mas Beatriz não vem. Nenhum sonho, nenhuma manifestação. Nada. Mas é aqui, nesta calçada, onde consigo sentir um mínimo contato com minha filha. Beatriz era mais feliz na rua que em casa. Como é que alguém pode ser mais feliz na rua que em casa?
Quando os pais ou os avós morrem, o passado já foi escrito. A história existe, os pontos de referência estão todos lá. Mas quando o filho morre, morre o que ia ser dito, o que ia ser feito, o que ia ser vivido… Sem Beatriz, eu não continuo, minha vida é rua sem saída. Eu acabo. Prefiro assim. Acabar é mais digno que morrer. É mais completo. A luz acaba, o dinheiro acaba, a juventude acaba, a história acaba… Ponto Final. É isso: acabar é mais que morrer. Morrer é de uma hora para outra, é interrupção sem sentido. Acabar, não. Acabar é terminar, é ir até o fim. Acabar é, sobretudo, ficar pronto.
Sem Beatriz, eu respiro apenas, Vou como um bicho. Por instinto. O que a vida quiser de mim, não importa: acabei, estou pronto.

Davi na calçada

Helena:
Você disse que essa viagem foi insistência minha e acomodação sua.
Não é só a viagem. Nosso casamento sobrevive assim: insistência minha e acomodação sua.

Helena com Davi

Mulher:
Tirar a máscara enfraquece, fragiliza. Mas eu não ligo. Se dar a conhecer é difícil. As pessoas se sentem completamente nuas. Não a nudez de um corpo belo e jovem que quer se exibir. Não. Eu falo é dos corpos envergonhados, que se escondem nos panos. A intimidade revelada mereceria o respeito a um corpo feio e velho que se despe. E desses assim, eu já vi muitos.

Trocador:
No primeiro dia, me achei importante pra cacete. Quando assinou a minha carteira, o cara lá da empresa me explicou que trocador era o encarregado de cobrar a passagem. Fiquei surpreso: então não é só dar o troco.
(orgulhoso)
Eu também sou o encarregado de cobrar a passagem… O cobrador.
(decepcionado)
É. Eu acreditei. Otário. Hoje, toco essa merda de qualquer jeito. Fazer o quê? Ninguém respeita trocador, não. Trocador tá sendo trocado por cartão magnético. Muito melhor que gente. Mais fácil. Fazer o quê?

O trocador

Motorista:
Cobrar e dar o troco. A gente passa a vida cobrando. Cobrando mixaria, cobrando bobagem um do outro. E por qualquer coisa, tem sempre alguém pronto para te dar o troco. Cobrar e dar o troco… Nosso amigo aí já deveria saber que a vida toda se resume nisso: cobrar e dar o troco.

O motorista

 

Ficha técnica:

Elenco:
Roberto Bomtempo (Davi), Hermila Guedes (Mulher), Othon Bastos (Motorista), Dedina Bernadelli (Helena), Silvio Guindane (Trocador) e Julia Bernat (Beatriz).

Produção e direção: Marcelo Taranto
Co-produção: Roberto Faissal Jr.
Produção executiva: Flávio Chaves
Roteiro: Francisco Azevedo e Marcelo Taranto
Edição: Joana Collier
Direção de fotografia: Antonio Luiz Mendes
Figurino: Daniela Garcia e Fael Mondego
Trilha sonora: Marco Tommaso e Quito Pedrosa
Música: Marcelo Taranto
Fotos: Luisa Taranto e João W. Faissal